segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Onde está o amor?

As coisas têm sido particularmente engraçadas para mim ultimamente, depois que fiquei dodói e comecei a fazer tratamento médico sério.

A vida tem sido uma verdadeira montanha-russa. Às vezes me sinto triste por demais, porque a dor é muito forte, aí nada dá certo e dá vontade de mandar tudo à puta-que-o-pariu.

Mas há dias que valem muito a pena, e nos quais sinto uma felicidade tão intensa, que dá vontade de dividir com todo mundo a minha alegria.

Como hoje, por exemplo. Meu final de semana foi maravilhoso. Aproveitei o sol, meu trabalho rendeu, lavei roupa, cozinhei, cuidei do cabelão, deixei a casa uma graça, as nossas coisas todas organizadinhas. Eu e o Beto até fizemos a decoração de Natal, com um móbile de anjinhos e um Papai Noel fofucho.

Acordei tão em paz que nem parecia segunda-feira!! E cheguei no trabalho toda animada, pronta pra mais uma semana: - Bom dia, USP!!!
Que nada. Todo mundo com cara de bunda, mal se falando. Aquela velha guerrinha silenciosa diária, em que todos estão descontentes e magoados uns com os outros, mas ninguém tem coragem de dizer na cara por quê.

Hoje ficou decidido que o amigo secreto de final-de-ano não vai dar certo, porque na hora H todo mundo desistiu, tamanho o clima pesadão que paira sobre o nosso sagrado local de trabalho, nossa segunda casa, nosso ambiente potencializador de relações interpessoais, onde construímos a cada dia a nossa dignidade. (influências das redações do Enem sobre a minha cabeça, rsrs).

Todo mundo reclamando sobre o tal "prêmio cala-boca" de final de ano, que o Reitor ainda não pagou pra gente, e acho que não vai vir mesmo. Oh céus!! e eu cantarolando feliz da vida, e pensando o que fazer com o meio-meio-salário que vou receber no 4º dia útil, totalmente fudido por causa das faltas e idas ao médico.

Almocei sozinha no Bandejão e, tomando o meu suco de sei-lá-o-quê (hoje era verde), perguntava para o James Brown no meu MP3: cadê todo mundo? Aquela comida estava tão gostosa, o bife com creme de milho tão divino, e eu ali aproveitando tudo sozinha!!

Nos minutos restantes do almoço, estava eu gozando a fresca da brisa quando uma colega do outro setor encostou, e perguntou como eu estava. Entusiasmada com o solzão lindo eu respondi que estava me sentindo ótima!! Ao que ela respondeu:
- Ué!! mas há um mês atrás você não estava com depressão?
- Sim, mas eu já estou melhor!! :)
- E o anti-depressivo, ainda tá tomando?
- Não, já acabou.
- Mas o que você tem, afinal? Tá toda inchada. =/
- Eu estou tomando cortisona, mas é só para controle, é pra não sentir dor. Eu estou me sentindo ótima hoje!! Desencana! :)
- Xiiii... Num sei não. Meu pai morreu desse mesmo negócio aí que você tem, de esclerose múltipla. Isso aí mata, viu?? E é melhor voltar a tomar o anti-depressivo, senão eu num dou 15 dias pra você ter uma recaída de novo.

Meu primeiro e primitivo impulso foi mandar essa criatura tomar no olho do seu cu, com todas as minhas forças. Me fingi de morta e saí andando, mas fiquei pensando nisso o dia inteiro. Puxa vida!! Será que custava a figura dizer que estava feliz com a minha recuperação? Ou, se a pessoa não gosta de mim, por que não ficou quieta??

Sabe, meu ex sempre me dizia que neste mundo há mais pessoas que nos querem mal do que bem, e o Beto diz igualmente que é perigoso anunciar aos quatro ventos a nossa felicidade, porque isso desperta inveja e ódio nas pessoas. Eu me recuso a acreditar nisso. Será possível que, a essa altura dos campeonatos, ainda existam pessoas que sintam prazer com a tristeza dos outros, que fiquem literalmente sambando quando a gente está sofrendo, e se mordam de inveja quando a gente está feliz?

Não sei mais o que pensar. Só sei que não estou nem aí. Citando Galvão e Moraes Moreira, vou continuar mostrando como sou, e sendo como posso. Não quero ter medo de mostrar a ninguém a minha felicidade e a minha superação, e de dizer que estou melhor a cada dia. Fodam-se todos os invejosos, foda-se todo mundo. Mas quem quiser ser feliz comigo me acompanhe. :)


Where Is The Love?
Black Eyed Peas

What's wrong with the world, mama?
People livin' like they ain't got no mamas
I think the whole world addicted to the drama
Only attracted to things that'll bring you trauma
Overseas, yeah, we try to stop terrorism
But we still got terrorists here livin'
In the USA, the big CIA
The Bloods and The Crips and the KKK
But if you only have love for your own race
Then you only leave space to discriminate
And to discriminate only generates hate
And when you hate then you're bound to get irate, yeah...
Badness is what you demonstrate
And that's exactly how anger works and operates
Nigga, you gotta have love just to set it straight
Take control of your mind and meditate
Let your soul gravitate to the love, y'all, y'all...

People killing, people dying
Children hurt and you hear them crying
Would you practice what you preach
Or would you turn the other cheek?
Father, Father, Father help us
Send us some guidance from above
'Cause people got me, got me questioning
Where is the love?

It just ain't the same, always unchanged
New days are strange, is the world insane?
If love and peace is so strong
Why are there pieces of love that don't belong?
Nations droppin' bombs
Chemical gasses fillin' lungs of little ones
With the on going suffering as the youth die young
So ask yourself is the loving really gone
So I could ask myself really what is going wrong
In this world that we livin' in people keep on giving in
Making wrong decisions, only visions of them dividends
Not respecting each other, deny thy brother
A war is going on but the reason's undercover
The truth is kept secret, it's swept under the rug
If you never know truth then you never know love
Where's the love? y'all, come on (I don't know)
Where's the truth? y'all, come on (I don't know)
Where's the love? y'all...

People killing, people dying
Children hurt and you hear them crying
Would you practice what you preach
Or would you turn the other cheek?
Father, Father, Father help us
Send us some guidance from above
'Cause people got me, got me questioning
Where is the love?

I feel the weight of the world on my shoulder
As I'm getting older, y'all, people gets colder
Most of us only care about money making
Selfishness got us followin' in the wrong direction
Wrong information always shown by the media
Negative images is the main criteria
Infecting the young minds faster than bacteria
Kids act like what they see in the cinema

Yo', whatever happened to the values of humanity
Whatever happened to the fairness in equality
Instead in spreading love we spreading animosity
Lack of understanding, leading lives away from unity
That's the reason why sometimes I'm feeling under
That's the reason why sometimes I'm feeling down
There's no wonder why sometimes I'm feeling under
Gotta keep my faith alive till love is found.

People killin', people dyin'
Children hurt and you hear them cryin'
Would you practice what you preach
Or would you turn the other cheek?
Father, Father, Father help us
Send us some guidance from above
'Cause people got me, got me questionin'
Where is the love?
Where is the love?
Where is the love?
Where is the love, the love, the love?...

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Equalize

Olha, não sou lá muito fã da Pitty não... Mas adoro esta música em particular.
A menina mandou bem pra cacete, nesta combinação de poesia doce, simples, direta, com pesados arranjos instrumentais.
E está maravilhoso o baixo mutante do Liminha.

Fazia tempo que eu não ouvia essa balada. Hoje estou tocando até desentupir o ouvido. =P
Beijos! =-*

Equalize

(Peu Sousa / Pitty)

Às vezes se eu me distraio
Se eu não me vigio um instante
Me transporto pra perto de você.
Já vi que não posso ficar tão solta
Me vem logo aquele cheiro
Que passa de você pra mim
Num fluxo perfeito...

Enquanto você conversa e me beija
Ao mesmo tempo eu vejo
As suas cores no seu olho, tão de perto.
Me balanço devagar
Como quando você me embala
O ritmo rola fácil
Parece que foi ensaiado
E eu acho que eu gosto mesmo de você
Bem do jeito que você é.

Eu vou equalizar você
Numa freqüência que só a gente sabe
Eu te transformei nessa canção
Pra poder te gravar em mim.


Adoro essa sua cara de sono
E o timbre da sua voz
Que fica me dizendo coisas tão malucas,
E que quase me mata de rir
Quando tenta me convencer
Que eu só fiquei aqui
Porque nós dois somos iguais.

Até parece que você já tinha
O meu manual de instruções
Porque você decifra os meus sonhos...
Porque você sabe o que eu gosto,
E porque quando você me abraça
O mundo gira devagar.

E o tempo é só meu
E ninguém registra a cena
De repente vira um filme todo em câmera lenta
E eu acho que eu gosto mesmo de você
Bem do jeito que você é.

Eu vou equalizar você
Numa freqüência que só a gente sabe
Eu te transformei nessa canção
Pra poder te gravar em mim.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Esperando Aviões

Composição: Vander Lee

Meus olhos te viram triste
Olhando pro infinito
Tentando ouvir o som do próprio grito.
E o louco que ainda me resta
Só quis te levar pra festa
Você me amou de um jeito tão aflito...

Que eu queria poder te dizer sem palavras,
Eu queria poder te cantar sem canções,
Eu queria viver morrendo em sua teia
Seu sangue correndo em minha veia,
Seu cheiro morando em meus pulmões...
Cada dia que passo sem sua presença
Sou um presidiário cumprindo sentença
Sou um velho diário perdido na areia
Esperando que você me leia
- Sou pista vazia esperando aviões.

Sou o lamento no canto da sereia
Esperando o naufrágio das embarcações...

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

As Forças da Natureza



(Paulo César Pinheiro e João Nogueira)

Quando o Sol
Se derramar em toda sua essência
Desafiando o poder da ciência
Pra combater o mal
E o mar
Com suas águas bravias
Levar consigo o pó dos nossos dias
Vai ser um bom sinal.

Os palácios vão desabar
Sob a força de um temporal
E os ventos vão sufocar o barulho infernal
Os homens vão se rebelar
Dessa farsa descomunal
Vai voltar tudo ao seu lugar, afinal.

Vai resplandecer
Uma chuva de prata do céu vai descer, la la iá...
O esplendor da mata vai renascer
E o ar de novo vai ser natural

Vai florir
Cada grande cidade o mato vai cobrir
Das ruínas um novo povo vai surgir
E vai cantar afinal

As pragas e as ervas daninhas
As armas e os homens de mal
Vão desaparecer nas cinzas de um carnaval.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Boca seca!!

Meus 31 anos...


Voltamos a viver como há dez anos atrás, e a cada hora que passa envelhecemos dez semanas...
(Renato Russo)



E há tempos são os jovens que adoecem.
(Renato Russo)



Pior do que saber que minha infância está indo pro brejo, é ver neguinho perguntar quem foi Papai Papudo.

(@Joiiicita, via Twitter)



Fazer 30 anos é mais do que chegar ao primeiro grande patamar. É mais que poder olhar pra trás. Chegar aos 30 é hora de se abismar. Por isto é necessário ter asas, e sobre o abismo voar.
(Afonso Romano de Sant'Anna)


E eu tô abismada mesmo. =-/
Dizem que 30 anos é a idade da razão e da sabedoria. Que é a idade em que a mulher está no auge da sua beleza. Que é a idade em que temos, ao mesmo tempo, passado e futuro.

Eu esperei com ansiedade a chegada dos 30 anos, e cheguei a ostentar por algum tempo aquele orgulho de "30 com corpinho de 25" (rsrsrs). Ainda tenho orgulho da minha idade, porque tem um mundão de gente mais velha do que eu por aí (hehê). Mas, chegando hoje aos 31, posso garantir que a terceira década de vida não começou muito glamourosa para mim.

Não digo que a chegada da maturidade não tenha seus benefícios. Como seria bom se, aos 18 anos, eu tivesse tudo o que tenho hoje: conhecimento profissional, experiência com as pessoas, casinha mais ou menos estruturada... enfim, conhecimento da vida. Mas eu juro que queria ter de volta a vitalidade dos 18, nem que fosse por um dia!! :)

Depois dos 30, parece que subitamente a minha pilha "acabou". A saúde despencou uns 80% (rsrsrs), e esse foi meu ano com recorde de faltas no trabalho e idas ao médico. Larguei o mestrado, larguei as aulas, me larguei também!! (rsrs). O saco encheu de tal forma, que tem dias que eu acordo, olho pro teto e penso: oh Deus, eu tenho mesmo que levantar dessa cama???

O mais engraçado é que grande parte dos amigos que estão chegando comigo na casa dos 30 está na mesma situação: stress, saco cheio, doenças esquisitas que antes apareciam apenas em pessoas bem mais velhas... e cansaço - muuuuito cansaço.

Hoje estou aqui escrevendo meio zureta, movida a remédio. Estou me adaptando ao novo anti-deprê, tomando remédios para a dor de cabeça e as (várias) dores no corpo. Se eu pudesse tirar uma foto agora, vocês veriam a cara de boca seca do Jim Carrey no filme "Eu, eu mesmo e Irene". (rsrs)

Só mesmo as atrizes da Rede Glóbulo (Deborah Secco, Carolina Dieckmann, Juliana Paes e cia.), que têm dinheiro pra se cuidar, para ficarem por aí ostentando: ooooh, eu tenho 31 anos e continuo gostosaaaaa!! :P

A infância e a adolescência estão cada vez mais longe, os ídolos se vão a cada dia... Os cabelos brancos daqui a pouco serão maioria. A vida social vai ficando cada vez mais careta (menos balada! mais TV e restaurante!). Cuidar da minha casa, ficar em casa com o meu amor, são as coisas mais gostosas do mundo. Os relacionamentos e amizades são cada vez mais escassos, mas se tornam mais sólidos e serenos. E os meus pais estão ficando a cada dia mais fofos e mais velhinhos.

Viva a maturidade! E, venha o que vier, vamos viver e amar intensamente - sempre. :)

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

O discurso de Madonna no VMA - Setembro de 2009


Michael Jackson nasceu em agosto de 1958, e eu também. Michael Jackson cresceu no subúrbio do Meio-Oeste, e eu também. Michael Jackson teve oito irmãos e irmãs - e eu também. Quando Michael Jackson tinha 6 anos, ele se tornou um superstar e talvez a criança mais adorada do mundo. Quando eu tinha 6 anos, minha mãe morreu.

Eu não tive mãe, mas ele nunca teve infância. E, quando você nunca teve algo, você se torna obcecado por isso. Eu passei minha infância buscando a imagem de minha mãe; e as vezes até conseguia. Mas como você faz para recriar sua infância quando você está sob os olhares do mundo para o resto de sua vida?

Não há dúvidas de que Michael Jackson foi um dos maiores talentos que este mundo já teve a chance de conhecer. De que quando ele cantava uma música aos 8 anos de idade, ele era capaz de fazer com que você sentisse como se um adulto estivesse apertando seu coração com suas palavras. De que o modo como ele dançava tinha a mesma elegância de Fred Astaire e o mesmo impacto de um soco de Muhammad Ali. De que sua música possuía uma camada extra de magia inexplicável, que não só fazia você querer dançar, mas que na realidade conseguia fazer você acreditar que era capaz de voar, de ousar sonhar, de ser tudo o que quisesse ser. Porque é isso que os heróis fazem. E Michael Jackson foi um herói.

Ele se apresentou em estádios de futebol ao redor do mundo, vendeu centenas de milhões de discos, jantou com primeiros-ministros e presidentes. As garotas se apaixonavam por ele, os garotos se apaixonavam por ele, todos queriam dançar como ele. Ele parecia ser de outro mundo, mas ele era também um ser humano. Assim como a maioria dos artistas, ele era tímido e inseguro.

Não posso dizer que éramos grandes amigos, mas em 1991 eu decidi que queria conhecê-lo melhor. Convidei-o para jantar. Eu disse, ‘O convite é meu, eu dirijo, só você e eu’. Ele concordou e apareceu na minha casa sem qualquer guarda-costas. Fomos até o restaurante no meu carro. Estava escuro, mas mesmo assim ele usava óculos escuros. Eu disse, ‘Michael, me sinto como se estivesse conversando com uma limusine. Será que você poderia tirar esses óculos para que eu possa ver seus olhos?’. Ele ficou parado por alguns instantes, e então atirou seus óculos pela janela, olhou para mim sorrindo, piscou e disse, ‘Consegue me ver agora? Melhor assim?’.

Naquele momento fui capaz de enxergar tanto sua vulnerabilidade quanto seu charme. Passei o resto do jantar tentando convencê-lo a comer batata frita, beber vinho, comer sobremesa e dizer palavrões, coisas que ele parecia jamais se permitira fazer. Mais tarde, voltamos para minha casa para assistir filme e ficamos sentados no sofá feito duas crianças. Em algum momento do filme, sua mão segurou a minha. Ele parecia estar procurando uma pessoa amiga e não um romance e fiquei feliz por estar ali. E naquele instante ele não se sentiu um superstar, ele se sentiu um ser humano. Nós saímos juntos mais algumas vezes e, por algum motivo, perdemos o contato.
Foi então que começou uma verdadeira ‘caça às bruxas’ na vida de Michael, com uma história surgindo após a outra. Eu senti a dor dele. Eu sei como é andar na rua e sentir como se o mundo todo estivesse contra você. Eu sei como é se sentir desamparado e incapaz de se defender, porque o barulho é tão alto que você se convence de que sua voz jamais será ouvida. Mas eu tive uma infância, e tive a chance de cometer erros e de descobrir meu caminho no mundo sem a luz dos holofotes.
Quando soube da morte de Michael Jackson eu estava em Londres, alguns dias antes do início da minha turnê. Michael ia se apresentar no mesmo local que eu, uma semana depois. Naquele instante, só consegui pensar que eu o havia abandonado. Que nós o havíamos abandonado. Que havíamos permitido que aquela criatura magnífica, que um dia agitou o mundo, caísse enquanto tentava construir uma família e reconstruir sua carreira. Estávamos ocupados demais fazendo julgamento. A maioria de nós lhe deu as costas.

Em uma tentativa desesperada de manter sua memória viva, fui para a internet assistir alguns de seus vídeos em que ele aparecia cantando e dançando na TV e nos palcos e pensei: ‘Meu Deus, ele era tão único, tão original, tão raro. E jamais haverá alguém como ele novamente’. Ele era um rei. Mas ele também era um ser humano. E nós as vezes precisamos perder algo para aprender a dar valor.
Quero concluir de forma positiva, e dizer que meus filhos de 9 e 4 anos são obcecados por Michael Jackson. Eles o imitam com os passos ‘moonwalker’ e colocando a mão na virilha, e parece que há uma nova geração descobrindo sua genialidade e trazendo-o de volta à vida. Espero que, onde quer que Michael esteja agora, ele esteja sorrindo a respeito disso.

Sim sim, Michael Jackson era um ser humano, mas ele era sim um rei. Vida longa ao Rei.”

sábado, 14 de agosto de 2010

Ira - Eu Vou Tentar



(Rodrigo Koala)


Hoje eu saio cedo
Sem saber se vou voltar.
Caminho entre os carros,
Deixo a rua me levar.
Vou ser feliz...
Longe daqui.

E mesmo que eu encontre
Um caminho diferente
Que aproxime o eu de mim
E afaste o eu da gente,
Eu vou tentar.
Eu vou tentar...

Vou só, sem uma foto,
uma lembrança, uma canção.
Te deixo de herança
O som do velho violão
Acorde em mi maior
Pra você ter algo de mim...

E sempre que estiver sozinha
Nas tardes de domingo
É só você pensar que eu,
Eu vou voltar sorrindo
Eu vou tentar.
Eu vou tentar...

Eu vou tentar fazer você feliz
Nem que seja pela última vez.
Eu vou tentar fazer você sentir
Tudo como na primeira vez.

Eu vou tentar...

E sempre que estiver sozinha
Nas tardes de domingo
É só você pensar que eu,
Eu vou voltar sorrindo
Eu vou tentar.

Eu vou tentar fazer você feliz
Nem que seja pela última vez.
Eu vou tentar fazer você sentir
Tudo como na primeira vez.

Hoje eu saio cedo
Sem saber se vou voltar.

domingo, 1 de agosto de 2010

1º de agosto

Bom mês de agosto para todos!! Força na peruca, porque a vida está cada vez mais maluca, e este mês é sempre chatinho... mas é só esperar mais um pouquinho, que a primavera já vem!! :)


"Abacateiro, sabes ao que estou me referindo
Porque todo tamarindo tem
O seu agosto azedo, cedo antes que o janeiro
Doce manga venha a ser também."
(Gilberto Gil, Refazenda)

quinta-feira, 29 de julho de 2010

A necessidade é a mãe da invenção! rsrsrs


Necessity is the mother of invention (Mexico)

Créditos da foto: Julian Tatsch- aluno de Administração de Empresas da TU München - Alemanha

Cartinha para o Papai do Céu


Querido Papai do Céu,

Eu piciso muito de uma geladeira nova. Não precisa ser daquelas grandonas. Mas que não faça aquela molhação toda na hora de descongelar, e não demore 6 horas para derreter todo o gelo.

Piciso também de uma máquina de lavar, Papai do Céu. Porque tá muito frio pra lavar roupa esfregando no tanque, e eu tenho tendinite e tô com aquele montão de roupa pra lavar que o senhor tá vendo.

E se o senhor descolar alguma promoção, traz pra mim celular novo? Que pelo menos acenda o display e que não desligue sozinho? É que aquele lindão que o senhor deu pra mim, os homens malvados levaram ele, e ainda não consegui comprar ôto. :(

Ah, e levaram o celular do Beto também, Papai do Céu. Como tá chegando o dos Pais, ele vai ficar muito feliz se o senhor der um celular novo pá ele.

Um beijo da sua filha Lu.
Amém :)

terça-feira, 27 de julho de 2010

Canção de Zeca Baleiro escrita em 1993 para Michael Jackson

Em 1993, Zeca Baleiro se sentiu tocado pelas declarações de Michael Jackson se dizendo inocente das acusações que sofria. Zeca disse que jamais acreditou nelas, tamanha era a verdade nos olhos de Michael naquela ocasião. Isso ele mesmo contou em um de seus shows. Ele também disse que jamais a gravaria, porque há uma tênue linha que separa a oportunidade do oportunismo. E ele não queria ser classificado assim.

Segue abaixo entrevista de um parceiro de Zeca para o Terra.

http://terramagazine.terra.com.br/in...l+Jackson.html


"No ano em que surgiram as primeiras denúncias de pedofilia contra Michael Jackson, um admirador brasileiro se compadeceu e fez uma música em homenagem ao astro. A composição de Canção Prá Ninar Um Neguim, por Zeca Baleiro, coincide com o ano em que o astro, veio pela segunda vez ao Brasil: 1993.

Zeca Baleiro nunca gravou a música. Toca, de vez em quando em um ou outro show.

Numa tarde de 2002, seu amigo e parceiro Renato Braz se preparava para gravar um disco, Quixote. Passou na casa de Baleiro, em São Paulo, a fim de colher do amigo uma música nova para incluir no CD.

Acabaram tocando, sem combinar, "Canção Prá Ninar Um Neguim". "Não fui eu que escolhi a música. Foi a música que me escolheu", diz Braz, que gravou a canção e venceu o Prêmio Visa de MPB naquele ano.

Um verso:
Neguim jeitoso / É perigoso viver sim senhor / Tem espinho e tem flor / Neguim moderno / O inferno é frio e no céu faz calor / Traz o teu cobertor.

"Foi uma declaração de amor ao Michael Jackson", conta Braz, cantor de música popular brasileira, de uma tendência não visivelmente marcada pela influência do artista norte-americano. Uma prova da abrangência de Jackson. "Tenho todos os discos. Até os discos que eu acho ruins, porque, quem sabe algum dia, possso me encantar com algo que eu ainda não percebi..."

"Queria andar com os pés como se tivesse flutuando como ele fazia", lembra-se Braz. "Embalou minha infância". Quando criança em São Paulo, conta Braz, "ouvia Tim Maia e Michael Jackson como se fossem da mesma família". "A musica dele é universal, chegou no subúrbio quando estava só começando", impressiona-se o cantor.

Braz atribui o sucesso do popstar à "verdade com que ele conduziu sua carreira". Michael Jackson e Tim Maia, a dupla de novo: "não representavam uma só classe. Fazem música abrangente".

Confira a letra da música "Canção Pra Ninar Um Neguim" na íntegra:



Preto pretinho
Eu sou do gueto
Branquinho de alma negra como tu
Meu dialeto
Sem preconceito
I don't know how to dance tua dança
But, I like you
Preto pretinho
Qual o crinho da tua alma blue
Essa África do Sul
Preto pretinho
Será que há jeito de ser como tu
Meio rosa e azul
Chora neguinho
Chuva de efeito e gelo seco
Não sarará a dor
Duerme negrito
Sonha Soweto
Mama no peito da mãe
Que te fez cantor
Neguim jeitoso
É perigoso viver sim senhor
Tem espinho e tem flor
Neguim moderno
O inferno é frio e no céu faz calor
Traz o teu cobertor.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Algumas questões para pensar enquanto trabalho...

O reitor da USP conseguiu se formar em 04 cursos na universidade pública e gratuita.

Aposentou-se com o alto salário de um desembargador federal aos 48 anos de idade.

Além da aposentadoria, recebe o salário de Professor Titular da USP, mais a verba de representação correspondente ao maior cargo da Universidade e mais diárias de R$ 330,00.

Não satisfeito, ele deu a si mesmo um reajuste salarial 6% maior que o nosso.

E um cara desses pode acreditar que tem moral para ir a público nos difamar e dizer que somos privilegiados?

O salário mínimo, necessário para a manutenção das necessidades básicas de uma família com quatro pessoas, calculado e atualizado nas últimas décadas pelo DIEESE, está hoje próximo de R$ 2.200,00. E o reitor da USP vai ao programa Roda Viva dizer que a média salarial mais baixa da USP é de R$ 1.240,00. E que essa é a faixa onde estão os trabalhadores que ela chama de "sem qualquer qualificação, que no mercado receberiam em média R$ 600,00".

É possível tolerar um absurdo desses? O reitor acha que quem ganha metade do necessário para viver ganha muito, porque tem gente ganhando só uma quarta parte do necessário.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Lembranças de um dia horrível.


A morte de Michael Jackson

Texto de Fernando Tucori - Equipe Rockwave

Publicado na fatídica quinta-feira, 25 de junho de 2009.

Aos 50 anos de idade, morreu Michael Jackson, em Los Angeles, nos Estados Unidos. Não se fala em outra coisa no mundo todo. Pude ter contato direto com pelo menos três redações de rádio e nunca vi tanta ansiedade em ter a confirmação de uma notícia. A maioria dos comentários das pessoas, enquanto buscavam, era: “não pode ser verdade”.

A maioria de nós, peões de redação hoje, tinha em torno de dez anos de idade quando Michael se tornou, de fato, o rei do pop. “Thriller” foi lançado em 1982 e, se hoje é o disco mais vendido do mundo, espere só até amanhã. Digo isso porque eu, que nem me considero um fã do Michael Jackson, tenho dois “Thriller”, em vinil. Graças a esse disco a MTV é o que é, o videoclipe é o que é e os anos 80 foram o que foram.


É uma coisa patética pra se lembrar, mas na 4ª B do Colégio Júlio Pereira Lopes as crianças não trocavam bilhetes – trocavam (atenção para o trocadilho) “beat its, que se pronunciava “bíretz”. No Natal daquele ano, eu ganhei uma calça vermelha, de nylon, e achava que, se passasse perto de um cemitério com ela, os mortos levantariam da terra pra dançar comigo – e eu nem sabia dançar! Tinha um programa de clipes, que passava na Rede Manchete e, por esperar que os clipes do Michael Jackson passassem nele, acabei vendo muita coisa legal, como, pra ficar no mínimo, Kiss e Queen. Suportei até o João Kleber, que, se não me engano, começou ali.

Michael se tornou maior que a década de 80. Tornou-se, inclusive, maior do que qualquer outra pessoa agüentaria ser. Sofreu preconceito dos brancos, por ser negro. Sofreu preconceito dos negros, quando apareceu branco diante da imprensa. Teve seus problemas com as crianças, polêmicos e implacáveis. Comprou coisas impensáveis, fez dívidas impagáveis e acabou virando escravo do mito que foi criado em torno dele.

Morreu, aos 50 anos de idade, vítima de uma parada cardíaca, Michael Jackson. Parada cardíaca, você sabe, é estresse e mais estresse e mais estresse e mais estresse. Morreu com tudo engatilhado, turnê, jogos pra vender pra computador e pra videogame e tudo mais.

Os mesmos abutres que picotaram o coração dele em pedacinhos pra vender pro mundo, que queria mais e mais do Rei do Pop, vão continuar ganhando grana às custas dele, pra sempre. Pra ele, deve ter sido um alívio ter se livrado de tudo isso.


Espero que Michael Jackson possa, enfim, descansar em paz.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Sobre a internacionalização da Amazônia


Durante debate em uma universidade em 2000, nos Estados Unidos, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) foi indagado sobre a internacionalização da Amazônia.

Um jovem americano introduziu a pergunta, dizendo que esperava a resposta de um humanista, e não de um brasileiro.

Esta foi resposta do senador Cristovam Buarque:

“De fato, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazônia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso.

Como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia, posso imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o mais que tem importância para a humanidade.

Se a Amazônia, sob uma ética humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro. O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazônia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extração de petróleo e subir ou não o seu preço.

Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado. Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou de um país.

Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação.

Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França.

Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano. Não se pode deixar esse patrimônio cultural, como o patrimônio natural Amazônico, seja manipulado e instruído pelo gosto de um proprietário ou de um país.

Não faz muito, um milionário japonês, decidiu enterrar com ele, um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado.

Durante este encontro, as Nações Unidas estão realizando o Fórum do Milênio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu acho que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser internacionalizada. Pelo menos Manhatan deveria pertencer a toda a humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica, sua historia do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro.

Se os EUA querem internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maiores do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil.

Defendo a idéia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida. Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do mundo tenha possibilidade de comer e de ir à escola.

Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram, como patrimônio que merece cuidados do mundo inteiro.

Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo.

Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazônia seja nossa. Só nossa.”

A Copa e o tempo


Carlos Heitor Cony

Folha de São Paulo - 18 de junho de 2010


Cada Copa é um encontro com o destino, não só no estádio, mas no campo de incertezas de cada mente.


As ruas enfeitadas de verde e amarelo: é a Copa do Mundo, mais uma. Competição e patriotismo à parte, cada Copa serve de referência, de baliza temporal para medir os anos que passam. Valem mais do que o simples Réveillon que comemoramos anualmente: afinal, o tempo ganhou uma dimensão nova e o espaço de 12 meses é curto para as grandes perspectivas interiores.

Quatro anos não é muito nem pouco: é bastante. Chegará o dia em que mediremos nossa verdadeira idade interior pelas Copas e não pelos anos. Aliás, na Antiguidade media-se o tempo histórico pelas Olimpíadas.

E independente do resultado de cada torneio mundial, fica o espanto pelo tempo que foi passando. Custo a absorver os 60 anos que me separam da Copa de 1950, aqui mesmo no Rio, a primeira depois do intervalo provocado pela Segunda Guerra Mundial.

Evidente que tudo era estranho: Getúlio ainda não se suicidara, ninguém conhecia JK, Pelé era um menino de várzea, a Lua, inatingível, o Brasil não sabia fabricar uma tesourinha de unha. No plano particular, algumas mulheres que amei nem tinham nascido ainda.

Os livros que escrevi não estavam sequer na cabeça. Enfim, se um terremoto matasse os 200 mil torcedores que se espremiam no Maracanã naquele Brasil x Uruguai de 1950, eu simplesmente não teria sido eu.

Não é o caso de perguntar se valeu a pena esta sobrevida de 60 anos. No plano estritamente esportivo, evidente que valeu: não vi o Brasil campeão em 1950, mas desforrei a frustração em 58, 62, 70, 94 e 2002.

No campo geral da vida, desaprendi algumas coisas e aprendi outras, não necessariamente melhores. Casei, descasei, tive filhos, escrevi livros, fui preso, desci aos infernos e não subi aos céus.

Cada Copa me traz, assim, um referencial completo, inadiável, de minha passagem pela vida e pelo mundo -e já não ouso invocar aquela piedosa imagem da oração católica que chamou esta vida e o mundo de "vale de lágrimas".

Não, não houve tantas lágrimas assim. As últimas, em certo sentido, foram deixadas no próprio Maracanã, quando acabou o jogo e a multidão, atônita, sentiu que o sonho acabara.

Anos depois, um cara de Liverpool que se julgava mais importante do que Jesus Cristo também proclamou que o sonho acabara. Bolas, o sonho não acaba: afinal, cada despertar é o noviciado para novo sonho e assim vamos, de sonho em sonho, de Copa em Copa, levando o barco para frente.

De qualquer forma, é confortador que em 1982, na Copa da Espanha, eu estava de malas prontas para as férias de Positano, que Mila - minha setter de olhos cor de mel - acabara de chegar em minha vida.

Bom lembrar que em 1970 eu iniciava um tumultuado período de vida. Enfim, cada Copa, como cada dia, segundo as escrituras, tinha a sua malícia: "Sufficit diei malitia sua" (a cada dia bastam as suas preocupações). Imagino quantas Copas ainda terei pela frente. Duas, três, quatro? Talvez nenhuma. Bem, o problema, de tão meu, não chega a ser meu: é do destino.

E aí está o que desejava dizer desde o início da crônica: cada Copa é um encontro com o destino, não apenas no estádio, mas no campo minado de incertezas de cada mente, de cada coração.

A cada Copa ela se torna mais presente na vida de todos, nos becos e nas ruas, asfalto e favela reagem do mesmo jeito, até o mercado aquece, vende-se mais, bebe-se mais. Mesmo comparando a de 1950, que foi no Brasil, com o Maracanã novinho, não havia tanto comprometimento social, mercadológico e sentimental como hoje.

O simples futebol é um pretexto temporal e factual para um encontro, breve, mas profundo, com os outros e até conosco. De repente nos descobrimos autênticos, sofrendo ou gozando por nada mesmo, por um sentimento geral que desperta em cada um de nós um estágio de pureza infantil, egoísta e coletiva ao mesmo tempo.

Evidente que a esperança (ou a confiança) no resultado final é o reagente químico para um tipo de festa que nem sempre acontece. Não importa. Cada Copa funciona como um tranco dentro de nós mesmos e, por mais paradoxal que seja, uma pausa na verdadeira Copa da vida onde sempre perdemos.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Brasa


Brasa


Composição: Gabriel o Pensador / Lenine

Um poeta já falou, vendo o homem e seu caminho:
"o lar do passarinho é o ar, e não o ninho". E eu voei...
Eu passei um tempo fora, eu passei um tempo longe.
Não importa quanto tempo, não importa onde.
Num lugar mais frio, ou mais quente de repente,
Onde a gente é esquisita, um lugar diferente.
Outra língua, outra cultura, outra moeda.
É, vida dura, mas eu sou duro na queda.
Se me derrubar... eu me levanto, e fui aos trancos e barrancos,
Trampo atrás de trampo, trabalhando pra pagar a pensão
E superar a tensão do pesadelo da imigração.

Clandestino, imigrante, maltrapilho.
Mais um subdesenvolvido que escolheu o exílio,
Procurando a sua chance de fazer algum dinheiro,
No primeiro mundo com saudade do terceiro.
Família, amigos, meus velhos, meu mano,
- o meu pequeno mundo em segundo plano.
Eu forcei alguns sorrisos e algumas amizades.
Passei um tempo mal, morrendo de saudade.

Eu tô morrendo de saudade, tô morrendo de saudade...
Eu tô morrendo de saudade, tô morrendo de saudade...

Da beleza poluída, da favela iluminada,
Do tempero da comida, do som da batucada.
Da cultura, da mistura, da estrutura precária.
Da farofa, do pãozinho e da loucura diária.
Do churrasco de domingo, o rateio e o fiado,
A criança ali dormindo, o coroa aposentado.

(Eu tô morrendo de saudade, tô morrendo de saudade...)

Da mulata oferecida, do pagode malfeito,
De torcer na arquibancada pro meu time do peito.
A pelada sagrada com a rapaziada,
O sorriso desdentado na rodinha de piada.
Da malandragem, da nossa malícia,
Da batida de limão, da gelada (que delícia!)

(Eu tô morrendo de saudade, tô morrendo de saudade...)

Do jornal lá na banca, da notícia pra ler,
Das garotas dos programas da TV.
Do jeitinho, do improviso, da bagunça geral.
Do calor humano, do fundo de quintal.
Do clima, da rima, da festa feita à toa
- típica mania de levar tudo na boa -
Ddo contato, do mato, do cheiro e da cor.
E do nosso, o nosso jeito de fazer amor.

Agora eu sou poeta, vendo o homem a caminhar:
o lar do passarinho é o ninho, e não o ar. E eu voltei...
E eu passei um tempo bem, depois do meu retorno.
Eu e minha gente, coração mais quente, refeição no forno.
Água no feijão, tô na área, bichinho.
Se me derrubar... eu não tô mais sozinho.
Tô de volta sim senhor.
Sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor.

Mas o amor é cego.
Devo admitir, devo e não nego,
Que aos poucos fui caindo na real,
Vendo como o Brasa tava em brasa, tava mal.
Vendo a minha terra assim em guerra, o meu país...
Não dá, não dá pra ser feliz.
E bate uma revolta, e bate uma deprê.
E bate a frustação, e bate o coração pra não morrer.
Mas bate assim cabreiro.
Bate no escuro, sem esperança no futuro, bate o desespero.
Bate inseguro, no terceiro mundo (se for), com saudade do primeiro.
Os velhos, os filhos, os manos...
ninguém aqui em casa tem direito a fazer planos.
Eu forcei alguns sorrisos e lágrimas risonhas.
Passei um tempo mal, morrendo de vergonha.

Eu tô morrendo de vergonha, tô morrendo de vergonha...
Eu tô morrendo de vergonha, tô morrendo de vergonha...

Da beleza poluída, da favela iluminada,
Da falta de comida pra quem não tem nada.
Da postura, da usura, da tortura diária.
Da cela especial, da estrutura carcerária.
A chacina de domingo, o rateio e o fiado,
A criança ali pedindo, o coroa acorrentado.

(Eu tô morrendo de vergonha, tô morrendo de vergonha...)

Da mulata oferecida, do pagode malfeito.
Morrer na arquibancada por meu time do peito.
O salário suado que não serve pra nada,
O sorriso desdentado na rodinha de piada.
Da malandragem, da nossa milícia,
Da batida da PM, da porrada da polícia.

(Eu tô morrendo de vergonha, tô morrendo de vergonha...)

Do jornal lá na banca, da notícia pra ler,
Das garotas de programa dos programas da TV.
Do jeitinho, do improviso, da bagunça geral,
Do sorriso mentiroso na campanha eleitoral.
Do clima de festa, da festa feita à toa
- ridícula mania de levar tudo na boa -
Do contato, do mato, do cheiro da carniça.
E do nosso, jeito de fazer justiça.

Mas eu vou ficar no Brasa
Porque o Brasa é minha casa, casa do meu coração.
Mas eu vou ficar no Brasa
Porque o Brasa é minha casa,
e a minha casa só precisa de uma boa arrumação.

Muita água e sabão.
Ensaboa, meu irmão.
Não se suja não.
Indignação.
Manifestação.
Mais informação.
Conscientização.
Comunicação.
Com toda razão.
Participação.
No voto e na pressão.
Reivindicação.
Reformulação.
Água e sabão na nossa nação.
Água e sabão, tá na nossa mão.
(Tô morrendo de paixão, tô morrendo de paixão...)

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Somos realmente livres?



13 de maio de 2010. São 122 anos de Abolição.

Não posso deixar de manifestar minha decepção e indignação, não somente pela situação do nosso povo negro, afro-descendente, mas também pela situação dos nossos índios, dos migrantes, imigrantes, mulheres, homossexuais, crianças, idosos que vivem à margem da sociedade.

Estou indignada, enfim, pelas injustiças - veladas ou não - que nós, os "não-brancos", ainda sofremos neste país.

Já vivi inúmeras situações constrangedoras, apenas pelo fato de ser negra. Já levei enquadrão da Rota no portão da USP, quando estava placidamente esperando o meu ônibus pra COHAB. Isso depois de trabalhar o dia inteiro e assistir mais de 4 horas de aula.

Já fui reprovada em muito processo seletivo de emprego, mesmo após ter ouvido por telefone: "ooooh!! que currículo maravilhoso!!". Pessoalmente, ao vivo, a história é outra.

Teve uma vez que eu encostei sem querer em uma senhora, no ônibus. Quando eu pedi desculpas, ela começou a se limpar com um lencinho. E houve também uma vez que eu passeava com a minha mãe (branca) e minha avó (índia), e perguntaram a elas se eu era a "secretária do lar".

Já perdi as contas de quantas vezes o meu marido (branco) teve que explicar que eu não sou a empregada dele, e sim que eu sou a esposa. Até imagino a cara de babá que eu teria, se um dia tivéssemos um filho e o moleque nascesse "clarinho" de olhos verdes (como os do meu sogro) ou azuis (como os do meu avô).

A situação da mulher negra continua complicada, pois ela ainda precisa conquistar com unhas e dentes (às vezes literalmente) o seu lugar ao sol. Por mais inteligentes e qualificadas que possamos ser, é uma pena que ainda sejamos preteridas por causa de nossa origem social e aparência. O mercado de trabalho prefere contratar pessoas de classe média, de cor clara, que lêem Zibia Gasparetto e acreditam em horóscopo de jornal (juro por Deus que eu vi isso em uma dinâmica de grupo).

O que o mercado precisa é de mentes para serem moldadas, para assim perpetuar a situação de escravidão que nunca terminou.

Lu

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Bom final de semana e bom senso!!

Bom Senso
Composição: Tim Maia

Álbum: Tim Maia Racional (1975)


Já virei calçada maltratada
E na virada quase nada
Me restou a curtição...

Já rodei o mundo quase mudo
No entanto, num segundo,
Este livro veio à mão.

Já senti saudade,
Já fiz muita coisa errada,
Já pedi ajuda,
Já dormi na rua.

Mas lendo atingi o bom senso...
Mas lendo atingi o bom senso
E a imunização racional.