sexta-feira, 30 de março de 2007

Racismo

Oi, pessoal :)

Nesta última semana, todos nós ficamos estarrecidos com a declaração da ministra Matilde Ribeiro, que resolveu falar em nome de todos os negros do país e soltar a seguinte pérola: "A reação de um negro de não querer conviver com um branco, eu acho uma reação natural. Quem foi açoitado a vida inteira não tem obrigação de gostar de quem o açoitou", afirmou a senhora ministra.

(Vejam a gafe completa em: http://noticias.terra.com.br/brasil/interna/0,,OI1509799-EI306,00.html)

Sem saber o que estava falando, a dona Matilde ajudou a detonar uma "bomba atômica", incentivando ainda mais o ódio racial. E temo que esse deslize da ministra tenha sido o "puxão" inicial na cordinha que vai mandar todos os projetos de igualdade racial para a "descarga".

Segundo Fábio Santos (do jornal Destak), "o resultado será o oposto do que se quer. Em vez da igualdade, a intolerância. E a extinção de algo que, apesar do racismo, ainda existe no país: a aceitação da diversidade, a compreensão de que somos um povo mestiço. Vamos virar todos ou brancos ou negros."

A semente do ódio racial foi lançada, e não demorou a germinar, crescer e dar muitos frutos. Basta dar uma pequena passeada pelo Orkut, e ver a quantidade de comunidades racistas, fascistas e homófobas que foram criadas só nesta última semana de março:

* "Zoofilia é crime" (como se os negros fossem animais...)

* "Ahhhhhhhh!! um negro me beijou" (Detalhe: a foto da comunidade é uma mulher praticando coprofagia. Talvez aludindo ao gosto do beijo de uma pessoa negra?)

* "É Sapatão? Eu levo pro Irã!!" (Foto: mulher levando uma "tesoura voadora". Precisa comentar mais?)

* "Viado bom é viado do Irã" (porque lá eles são enforcados...)

* "Homossexualismo é doença SIM!" (Essa comunidade já foi excluída várias vezes, mas a moderadora é insistente...)

Isso sem falar nas comunidades relacionadas, e nas centenas de perfis de usuários filiados - muitos deles explicitamente racistas e homófobos.

Sempre fui uma militante da igualdade racial, e quem me conhece aqui na USP sabe que nunca tive "aversão a branco" (pra repetir a infeliz idéia da ministra Matilde). Basicamente por três motivos (se é que precisa ter motivo).

Primeiro: meu pai é negro, minha mãe é branca, eles são casados há 28 anos e não vivem um só dia longe um do outro. E nunca vi meu pai ser "açoitado" pela minha mãe, nem pela família da minha mãe, viu dona Matilde?

Segundo: minha família paterna é praticamente toda afro-descendente. Mas minha avó materna tem ascendência indígena, e meu avô paterno era descendente de portugueses. Portanto, na minha família tem gente de tudo que é "raça" e "cor" - e eu acho que essa mistura de "raças" na minha família é a coisa mais linda do mundo.

Terceiro: gente, alguém pode provar que é 100% branco ou 100% negro, em um país tão rico em diversidade e miscigenação como o nosso? Acho que, antes de sair dando entrevistas e falar besteiras sem pensar, a sra. ministra tem que passar por um algumas horinhas de leitura básica. Começando com "O povo brasileiro", de Darcy Ribeiro, e "Raízes do Brasil", de Sérgio Buarque de Holanda.

Enquanto existir esse tipo de discurso inconsequënte, vou me sentir como o passarinho da fábula do Betinho. Mas nunca vou deixar de fazer a minha parte.

Abraços para todos. :)

"Houve um incêndio na floresta e enquanto todos os bichos corriam apavorados, um pequeno beija-flor ia do rio para o incêndio levando gotinhas de água em seu bico. O leão, vendo aquilo, perguntou para o beija-flor: "Ô beija-flor, você acha que vai conseguir apagar o incêndio sozinho?" E o beija-flor respondeu: "Eu não sei se vou conseguir, mas estou fazendo a minha parte". (Herbert de Souza)

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