"Ele veio correndo, avisar que o faraó, em meio às dores do luto, permitira que eles fossem embora. E assim fizeram. Naquela noite não houve tempo para o pão crescer, fizeram-no sem fermento. Saíram logo em seguida, aquela multidão imensa. Estavam próximos do mar quando souberam que o faraó revogara a ordem e mandara tropas em seu encalço. Não havia tempo para circundar o mar, e sabiam que só os homens muito extraordinários andavam sobre as águas, e este era um povo de gente comum, escravos. Mas a sede de liberdade é capaz de milagres: o mar se dividiu, e eles passaram. Apenas 40 anos depois, quando toda a geração que havia sido escrava tinha morrido, chegaram àquela que chamavam de terra prometida.
Ele veio correndo, dizer que tiraram a pedra diante do túmulo. Havia três dias que mataram o seu líder. E agora o túmulo estava vazio. O que fazer, pensava ele, enquanto corria. O que fazer? As coisas seguiriam outro rumo, mal sabia ele que iria para Roma, e lá ele teria uma morte igual à do seu líder. Também não sabia que era uma rocha. Mas seu nome era pedra. Era pobre, um pescador apenas, sobrevivendo naquela que tinha sido a terra prometida aos seus ancestrais 15 séculos antes. Uma terra ocupada por uma nação estrangeira, à qual se aliara a elite local. As coisas tomariam um rumo inusitado, e vinte séculos depois Roma seria importante por sua história e por conter aquele que seria chamado de seu trono. Mas, naquele momento, ele não sabia o que fazer.
Ele veio correndo, tomado pelo pânico. Era noite, e ele corria, aterrorizado. Haviam entrado em sua casa, matado toda sua família, ele caíra debaixo da cama e, por milagre, escapara ileso. Os homens saíram chutando as coisas e os mortos, e logo depois ele escapara, e corria, corria, corria, sem saber para onde, com os olhos arregalados, lágrimas escorrendo. Ainda nem conseguia pensar no que se seguiria em sua vida, que, com certeza, muito mudaria. Fizera uma travessia, e não sabia disso ainda. Quem era ele? muitos, com certeza. Tinha sete anos. Era um judeu de Varsóvia, em 1941. Era um vietnamita, em 1971. Era um cambojano, em 1978. Era um muçulmano xiita de Sabra e Chatila. Era um muçulmano sunita da Faixa de Gaza. Era um iraquiano em 2004. Era um tutsi de Ruanda. Era um zulu na África do Sul em 1978. Era um colombiano em 1998. Era um garoto do Complexo da Maré, no Rio de Janeiro. Era um garoto do Jardim Ângela, em São Paulo.
Ele veio correndo, dizer que tiraram a pedra diante do túmulo. Havia três dias que mataram o seu líder. E agora o túmulo estava vazio. O que fazer, pensava ele, enquanto corria. O que fazer? As coisas seguiriam outro rumo, mal sabia ele que iria para Roma, e lá ele teria uma morte igual à do seu líder. Também não sabia que era uma rocha. Mas seu nome era pedra. Era pobre, um pescador apenas, sobrevivendo naquela que tinha sido a terra prometida aos seus ancestrais 15 séculos antes. Uma terra ocupada por uma nação estrangeira, à qual se aliara a elite local. As coisas tomariam um rumo inusitado, e vinte séculos depois Roma seria importante por sua história e por conter aquele que seria chamado de seu trono. Mas, naquele momento, ele não sabia o que fazer.
Ele veio correndo, tomado pelo pânico. Era noite, e ele corria, aterrorizado. Haviam entrado em sua casa, matado toda sua família, ele caíra debaixo da cama e, por milagre, escapara ileso. Os homens saíram chutando as coisas e os mortos, e logo depois ele escapara, e corria, corria, corria, sem saber para onde, com os olhos arregalados, lágrimas escorrendo. Ainda nem conseguia pensar no que se seguiria em sua vida, que, com certeza, muito mudaria. Fizera uma travessia, e não sabia disso ainda. Quem era ele? muitos, com certeza. Tinha sete anos. Era um judeu de Varsóvia, em 1941. Era um vietnamita, em 1971. Era um cambojano, em 1978. Era um muçulmano xiita de Sabra e Chatila. Era um muçulmano sunita da Faixa de Gaza. Era um iraquiano em 2004. Era um tutsi de Ruanda. Era um zulu na África do Sul em 1978. Era um colombiano em 1998. Era um garoto do Complexo da Maré, no Rio de Janeiro. Era um garoto do Jardim Ângela, em São Paulo.
Pessach, de onde vem a palavra páscoa, quer dizer passagem. Mas muitos acham que Páscoa quer dizer apenas chocolate."
O. Züge
O. Züge
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