Os discos do Beltiquim
escrito por: Daniel Brazil - 10 Janeiro de 2004
O antigo JajaBar, lá nas quebradas do Butantã, criou fama pelo ambiente jovial, o anárquico serviço e o cenário de boteco de periferia dos anos 50, 60.
Os novos donos criaram o Beltiquim, um reduto maranhense, ligado ao pessoal do Morro do Querosene. Tião Carvalho era um dos sócios, junto com sua irmã Bel. Mantiveram o clima e a simpatia.
No fim do ano, uma mudança inesperada na decoração. Aterrissaram no bar mais ou menos 3 mil discos em 78 rpm, que se espalharam pelas prateleiras. Um tesouro ainda inexplorado, pois o próprio dono - o Edson, do Autor na Praça - não conhece tudo o que tem ali. Estamos planejando uma brigada especial de limpeza, catalogação e audição, movida a cerveja, a portas fechadas, para breve. Aceitamos inscrições.
No pouco que espiei, algumas curiosidades. Vocês sabiam que Asa Branca, lançado por Luiz Gonzaga pela RCA Victor, era o lado B de uma marchinha chamada Vou Prá Roça?
Tristeza do Jeca, com Tonico e Tinoco, também era lado B, coadjuvante de uma guarânia chamada A Milagrosa Nossa Senhora...
Chão de Estrelas, com Silvio Caldas, foi mais um lado B, mas nesse caso está bem acompanhada. A bela valsa Arranha-Céu, também com letra de Orestes Barbosa é quem tem a primazia de abrir o disco.
Tem muito choro (Jacob, Waldyr Azevedo, Tico-tico no Fubá com duas orquestras americanas), muito Orlando Silva, Nelson Gonçalves, Luiz Gonzaga, Carmen Miranda, Dalva...
Aliás, achei um disco desta última que é, no mínimo, inusitado: É o 13.350 da Odeon, com a marcha-rancho Meu Rouxinol e a informação "homenagem póstuma". Do outro lado, o disco tem sulcos normais, com o seguinte aviso no selo: "O silêncio desta face não gravada é o nosso preito de veneração àquele que foi o 'REI DA VOZ'. A Odeon, continuando a campanha filantrópica a que FRANCISCO ALVES dedicou os últimos dias de vida, doará às duas instituições de Caridade que mereceram a sua proteção, os Direitos Artísticos e Autorais que seriam devidos ao saudoso cantor se nela houvesse uma sua gravação."
Um disco com silêncio! Ou melhor, só com chiados. E recolhe direitos autorais sobre isso? Será que tocou em alguma rádio? Ou já era um aplique da velha Odeon no bolso do consumidor? E a Dalva, recebeu alguma coisa? Mistérios de nosso mundo fonográfico...
Daniel Brazil
Publicado originalmente na Agenda do Samba e Choro em 10/01/2004
http://www.samba-choro.com.br/s-c/tribu
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