“Eu sei beber, eu sei me controlar, eu sei como fazer.” Este é o discurso de quem caiu na armadilha chamada álcool.
Por: Alessandra Vitória - Jornal Brasília em Dia
Os Alcoólicos Anônimos comemoraram em 2007 seus 60 anos no Brasil. Sem brindes. A instituição luta pela sobriedade permanente de cerca de dois milhões de alcoólatras, em 90 mil grupos espalhados por mais de 150 países. Atualmente, 10 a 12% da população mundial têm problemas de dependência com o álcool. Para os membros dos AA, a distância que separa o homem do alcoolismo é apenas a de um braço - para alcançar o copo.
É cada vez menor a diferença entre o bebedor social e o alcoólatra compulsivo. Este, além de depender psicologicamente da bebida, sente necessidade física dela: seu corpo passa a depender do álcool. Por isso, o compromisso que os alcoólicos anônimos propõem é uma meta ambiciosa: 24 horas de abstinência. Um esforço hercúleo: quando o alcoólatra deixa de beber, o corpo reage violentamente, com mal-estar, calafrios e até alucinações. É a síndrome de abstinência. Os sintomas são ainda mais penosos para as mulheres. Muitas apresentam todos os sinais de gravidez: seios intumescidos, suspensão da menstruação, enjôos.
Não importa o tempo que se fica sem beber, há sempre o risco de voltar ao vício. “É por isso que não se pode ter como meta beber moderadamente. Para o alcoólatra clássico, a abstinência deve ser total”, alerta o médico Márcio Coutinho.
O dependente luta contra os apelos de uma sociedade que, ao mesmo tempo em que reprova o vício, o instiga a beber. "A mídia vende a ilusão de que os momentos felizes necessitam de uma bebida ou um cigarro", diz Marcio Coutinho.
Nos Estados Unidos, gastam-se U$136 bilhões para combater o alcoolismo. No Brasil, seriam necessários R$ 25 bilhões. Em nosso país, o problema é ainda pior na população carente, que bebe para aplacar a fome. Isto porque o álcool, além do efeito sedativo, concentra uma imensa quantidade de energia: sete calorias por cada grama.
“Atualmente, há cerca de 16 milhões de brasileiros dependentes do álcool. Se levarmos em conta que cada um, com os efeitos da doença, mobiliza de três a quatro pessoas, temos 50 milhões sofrendo direta ou indiretamente por causa do alcoolismo. A cada 10 pessoas que bebem socialmente, uma se tornará alcoólatra”, estima o psiquiatra Mario Biscaia.
O álcool é uma porta escancarada para outros vícios. Sendo uma droga depressora, passado o efeito prazeroso, ela deprime. Para atenuar essa sensação, por sua vez, usam-se tranqüilizantes, anfetaminas, etc. Os riscos são grandes, pois o álcool chega a triplicar o efeito de certas substâncias.
Luta contra o tempo
As pesquisas apontam para a hereditariedade: 30% dos casos apresentam fator genético. Nosso organismo produz endorfinas, chamadas de receptores opiódes, que são responsáveis pela sensação de prazer e desinibição que o álcool provoca nas primeiras doses. Nas pessoas predispostas à doença, que é crônica e progressiva, levando à morte, essa sensação de prazer é muito maior. “Estudos na Áustria e na Alemanha indicam quatro tipos de alcoolismo. Um agiria sobre os neurotransmissores, como a dopamina e as endofirmas; outro, relacionado à ansiedade; o terceiro, provocado por problemas cerebrais, e o quarto, comum na mulher, estaria associado à depressão”, explica o doutor Biscaia.
Nos Estados Unidos, está sendo usado, no tratamento do alcoolismo, o naltrexone (com o nome comercial de Revia), medicamento já aplicado a dependentes de heroína. Ele bloqueia os receptores das endorfinas e, com isso, a sensação de prazer e bem-estar, provocada pelo álcool. Mas, para funcionar, é preciso fazer modificações de hábito e de estilo, restringindo situações que levam a beber.
“O que eu fiz da vida?”
O preconceito é maior com as mulheres alcoólicas. Sentindo-se envergonhadas e cheias de culpa, elas escondem o vício. “Não há estatísticas, porque elas se refugiam em casa, evitando o contato social, que as deprime ainda mais”, reve-la o médico Marcio Coutinho. Nas reuniões dos AA, um simples detalhe revela a que deve ser a principal diferença na atitude do homem e da mulher frente ao álcool. Nas reuniões, são poucas as que usam aliança, ao contrário da maioria dos homens em recuperação. Isso acontece porque, geralmente, apesar do sofrimento, as mulheres aceitam, perdoam, tentam compreender. Buscam ajuda, porém continuam com o marido alcoólatra. Em compensação, o homem não demonstra a mesma tolerância.
O percurso da bebida
O álcool vai diretamente para o estômago, depois para o intestino, onde é absorvido. Em seguida, passa à circulação sangüínea e é depurado lentamente no fígado, seguindo para o coração e todo o organismo. O resto é eliminado pelos pulmões, rins e pela pele, através do hálito, do suor e da urina.
Pele - A oxidação do álcool no fígado libera o acetaldeído, a matéria-prima da bebida, que provoca um afluxo de sangue para a pele, tornando-a avermelhada. Há uma falsa sensação de calor, causada pela aceleração do pulso e da pressão sangüínea. Na verdade, o álcool provoca a perda de calor, abalando os mecanismos de defesa do organismo contra o frio.
Olhos - Cegueira noturna, pela deficiência de zinco.
Ouvidos - Sensação de desequilíbrio, devido à modificação na densidade do líquido endolabiríntico.
Cérebro - A dilatação dos vasos cerebrais provoca dor de cabeça. O álcool destrói os neurônios e altera as suas terminações, as sinapses, levando a um déficit de memória e de atenção, além de agressividade e depressão. Torpor e sonolência indicam, a longo prazo, uma síndrome de efeitos cognitivos. Problemas cerebelares são os causadores das quedas e traumatismos. A incapacidade de coordenação dos movimentos musculares voluntários caracteriza o andar desequilibrado. O álcool pode evoluir para um quadro de demência. Nos casos mais graves, provoca atrofia cerebral.
Sistema nervoso central - Prejuízo na transmissão das informações e uma série de doenças cujos sintomas são: formigamento nas pontas dos pés e das mãos, pernas fracas e paralisia. A má absorção de vitaminas e minerais pode levar à desnutrição. O risco de câncer é 20 % maior, chegando a 44% no caso dos fumantes. A bebida também pode aumentar em até 20 vezes as tentativas de suicídio.
Sistema cardiorrespiratório - O álcool faz mal ao coração, predispõe à hipertensão e a infartos e derrames. Ele também reduz a capacidade do pulmão em eliminar germes, deixando-o vulnerável a infecções.
Sistema digestivo - Antes de ser digerido, o álcool atravessa o tubo digestivo. Por isso, as lavagens estomacais não funcionam no caso de coma alcoólico. Gastrite hemorrágica (vômitos com sangue), úlceras, enterocolites com diarréias, pancreatites agudas e/ou crônicas são outras conseqüências. Alterações hormonais, inclusive no ciclo menstrual. Mulheres alcoólicas podem gerar crianças com uma síndrome que provoca mal-formações, atraso no crescimento, microcefalia e deficiência mental. O problema se acentua a cada gravidez. O álcool reduz a testosterona no homem. Por isso, leva à impotência, provocando o desejo, mas impedindo a sua consumação.
Por: Alessandra Vitória - Jornal Brasília em Dia
Os Alcoólicos Anônimos comemoraram em 2007 seus 60 anos no Brasil. Sem brindes. A instituição luta pela sobriedade permanente de cerca de dois milhões de alcoólatras, em 90 mil grupos espalhados por mais de 150 países. Atualmente, 10 a 12% da população mundial têm problemas de dependência com o álcool. Para os membros dos AA, a distância que separa o homem do alcoolismo é apenas a de um braço - para alcançar o copo.
É cada vez menor a diferença entre o bebedor social e o alcoólatra compulsivo. Este, além de depender psicologicamente da bebida, sente necessidade física dela: seu corpo passa a depender do álcool. Por isso, o compromisso que os alcoólicos anônimos propõem é uma meta ambiciosa: 24 horas de abstinência. Um esforço hercúleo: quando o alcoólatra deixa de beber, o corpo reage violentamente, com mal-estar, calafrios e até alucinações. É a síndrome de abstinência. Os sintomas são ainda mais penosos para as mulheres. Muitas apresentam todos os sinais de gravidez: seios intumescidos, suspensão da menstruação, enjôos.
Não importa o tempo que se fica sem beber, há sempre o risco de voltar ao vício. “É por isso que não se pode ter como meta beber moderadamente. Para o alcoólatra clássico, a abstinência deve ser total”, alerta o médico Márcio Coutinho.
O dependente luta contra os apelos de uma sociedade que, ao mesmo tempo em que reprova o vício, o instiga a beber. "A mídia vende a ilusão de que os momentos felizes necessitam de uma bebida ou um cigarro", diz Marcio Coutinho.
Nos Estados Unidos, gastam-se U$136 bilhões para combater o alcoolismo. No Brasil, seriam necessários R$ 25 bilhões. Em nosso país, o problema é ainda pior na população carente, que bebe para aplacar a fome. Isto porque o álcool, além do efeito sedativo, concentra uma imensa quantidade de energia: sete calorias por cada grama.
“Atualmente, há cerca de 16 milhões de brasileiros dependentes do álcool. Se levarmos em conta que cada um, com os efeitos da doença, mobiliza de três a quatro pessoas, temos 50 milhões sofrendo direta ou indiretamente por causa do alcoolismo. A cada 10 pessoas que bebem socialmente, uma se tornará alcoólatra”, estima o psiquiatra Mario Biscaia.
O álcool é uma porta escancarada para outros vícios. Sendo uma droga depressora, passado o efeito prazeroso, ela deprime. Para atenuar essa sensação, por sua vez, usam-se tranqüilizantes, anfetaminas, etc. Os riscos são grandes, pois o álcool chega a triplicar o efeito de certas substâncias.
Luta contra o tempo
As pesquisas apontam para a hereditariedade: 30% dos casos apresentam fator genético. Nosso organismo produz endorfinas, chamadas de receptores opiódes, que são responsáveis pela sensação de prazer e desinibição que o álcool provoca nas primeiras doses. Nas pessoas predispostas à doença, que é crônica e progressiva, levando à morte, essa sensação de prazer é muito maior. “Estudos na Áustria e na Alemanha indicam quatro tipos de alcoolismo. Um agiria sobre os neurotransmissores, como a dopamina e as endofirmas; outro, relacionado à ansiedade; o terceiro, provocado por problemas cerebrais, e o quarto, comum na mulher, estaria associado à depressão”, explica o doutor Biscaia.
Nos Estados Unidos, está sendo usado, no tratamento do alcoolismo, o naltrexone (com o nome comercial de Revia), medicamento já aplicado a dependentes de heroína. Ele bloqueia os receptores das endorfinas e, com isso, a sensação de prazer e bem-estar, provocada pelo álcool. Mas, para funcionar, é preciso fazer modificações de hábito e de estilo, restringindo situações que levam a beber.
“O que eu fiz da vida?”
O preconceito é maior com as mulheres alcoólicas. Sentindo-se envergonhadas e cheias de culpa, elas escondem o vício. “Não há estatísticas, porque elas se refugiam em casa, evitando o contato social, que as deprime ainda mais”, reve-la o médico Marcio Coutinho. Nas reuniões dos AA, um simples detalhe revela a que deve ser a principal diferença na atitude do homem e da mulher frente ao álcool. Nas reuniões, são poucas as que usam aliança, ao contrário da maioria dos homens em recuperação. Isso acontece porque, geralmente, apesar do sofrimento, as mulheres aceitam, perdoam, tentam compreender. Buscam ajuda, porém continuam com o marido alcoólatra. Em compensação, o homem não demonstra a mesma tolerância.
O percurso da bebida
O álcool vai diretamente para o estômago, depois para o intestino, onde é absorvido. Em seguida, passa à circulação sangüínea e é depurado lentamente no fígado, seguindo para o coração e todo o organismo. O resto é eliminado pelos pulmões, rins e pela pele, através do hálito, do suor e da urina.
Pele - A oxidação do álcool no fígado libera o acetaldeído, a matéria-prima da bebida, que provoca um afluxo de sangue para a pele, tornando-a avermelhada. Há uma falsa sensação de calor, causada pela aceleração do pulso e da pressão sangüínea. Na verdade, o álcool provoca a perda de calor, abalando os mecanismos de defesa do organismo contra o frio.
Olhos - Cegueira noturna, pela deficiência de zinco.
Ouvidos - Sensação de desequilíbrio, devido à modificação na densidade do líquido endolabiríntico.
Cérebro - A dilatação dos vasos cerebrais provoca dor de cabeça. O álcool destrói os neurônios e altera as suas terminações, as sinapses, levando a um déficit de memória e de atenção, além de agressividade e depressão. Torpor e sonolência indicam, a longo prazo, uma síndrome de efeitos cognitivos. Problemas cerebelares são os causadores das quedas e traumatismos. A incapacidade de coordenação dos movimentos musculares voluntários caracteriza o andar desequilibrado. O álcool pode evoluir para um quadro de demência. Nos casos mais graves, provoca atrofia cerebral.
Sistema nervoso central - Prejuízo na transmissão das informações e uma série de doenças cujos sintomas são: formigamento nas pontas dos pés e das mãos, pernas fracas e paralisia. A má absorção de vitaminas e minerais pode levar à desnutrição. O risco de câncer é 20 % maior, chegando a 44% no caso dos fumantes. A bebida também pode aumentar em até 20 vezes as tentativas de suicídio.
Sistema cardiorrespiratório - O álcool faz mal ao coração, predispõe à hipertensão e a infartos e derrames. Ele também reduz a capacidade do pulmão em eliminar germes, deixando-o vulnerável a infecções.
Sistema digestivo - Antes de ser digerido, o álcool atravessa o tubo digestivo. Por isso, as lavagens estomacais não funcionam no caso de coma alcoólico. Gastrite hemorrágica (vômitos com sangue), úlceras, enterocolites com diarréias, pancreatites agudas e/ou crônicas são outras conseqüências. Alterações hormonais, inclusive no ciclo menstrual. Mulheres alcoólicas podem gerar crianças com uma síndrome que provoca mal-formações, atraso no crescimento, microcefalia e deficiência mental. O problema se acentua a cada gravidez. O álcool reduz a testosterona no homem. Por isso, leva à impotência, provocando o desejo, mas impedindo a sua consumação.
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