quinta-feira, 13 de maio de 2010

Somos realmente livres?



13 de maio de 2010. São 122 anos de Abolição.

Não posso deixar de manifestar minha decepção e indignação, não somente pela situação do nosso povo negro, afro-descendente, mas também pela situação dos nossos índios, dos migrantes, imigrantes, mulheres, homossexuais, crianças, idosos que vivem à margem da sociedade.

Estou indignada, enfim, pelas injustiças - veladas ou não - que nós, os "não-brancos", ainda sofremos neste país.

Já vivi inúmeras situações constrangedoras, apenas pelo fato de ser negra. Já levei enquadrão da Rota no portão da USP, quando estava placidamente esperando o meu ônibus pra COHAB. Isso depois de trabalhar o dia inteiro e assistir mais de 4 horas de aula.

Já fui reprovada em muito processo seletivo de emprego, mesmo após ter ouvido por telefone: "ooooh!! que currículo maravilhoso!!". Pessoalmente, ao vivo, a história é outra.

Teve uma vez que eu encostei sem querer em uma senhora, no ônibus. Quando eu pedi desculpas, ela começou a se limpar com um lencinho. E houve também uma vez que eu passeava com a minha mãe (branca) e minha avó (índia), e perguntaram a elas se eu era a "secretária do lar".

Já perdi as contas de quantas vezes o meu marido (branco) teve que explicar que eu não sou a empregada dele, e sim que eu sou a esposa. Até imagino a cara de babá que eu teria, se um dia tivéssemos um filho e o moleque nascesse "clarinho" de olhos verdes (como os do meu sogro) ou azuis (como os do meu avô).

A situação da mulher negra continua complicada, pois ela ainda precisa conquistar com unhas e dentes (às vezes literalmente) o seu lugar ao sol. Por mais inteligentes e qualificadas que possamos ser, é uma pena que ainda sejamos preteridas por causa de nossa origem social e aparência. O mercado de trabalho prefere contratar pessoas de classe média, de cor clara, que lêem Zibia Gasparetto e acreditam em horóscopo de jornal (juro por Deus que eu vi isso em uma dinâmica de grupo).

O que o mercado precisa é de mentes para serem moldadas, para assim perpetuar a situação de escravidão que nunca terminou.

Lu

2 comentários:

PenseaRespeito* disse...

O mais incrivel disso tudo é que parece que só quem é negro que percebe essas coisas. Já cansei de ver comentário no blog meio que achando que eu tô exagerando. As pessoas de outras etnias vêem isso como o problema dos outros, não se idenficam e tendem a dizer que não existe.

Parabéns pelo post.

Beijo!

POETA DE GAVETA disse...

Realmente. O fim da escravidão gerou o começou de outra.
Parabéns pela postagem.