O buraco do espelho está fechado.
Agora eu tenho que ficar aqui,
com um olho aberto, outro acordado,
no lado de lá onde caí.
Pro lado de cá não tenho acesso,
mesmo que me chamem pelo nome,
mesmo que admitam meu regresso.
Toda vez que eu vou, a porta some.
A janela some na parede.
A palavra de água se dissolve.
Na palavra sede, a boca cede,
antes de falar, e não se ouve.
Já tentei dormir a noite inteira,
quatro, cinco, seis da madrugada.
Vou ficar ali nesta cadeira,
uma orelha alerta, outra ligada.
O buraco do espelho está fechado.
Agora eu tenho que ficar agora,
Fui pelo abandono abandonado,
aqui dentro, do lado de fora.
Arnaldo Antunes
Agora eu tenho que ficar aqui,
com um olho aberto, outro acordado,
no lado de lá onde caí.
Pro lado de cá não tenho acesso,
mesmo que me chamem pelo nome,
mesmo que admitam meu regresso.
Toda vez que eu vou, a porta some.
A janela some na parede.
A palavra de água se dissolve.
Na palavra sede, a boca cede,
antes de falar, e não se ouve.
Já tentei dormir a noite inteira,
quatro, cinco, seis da madrugada.
Vou ficar ali nesta cadeira,
uma orelha alerta, outra ligada.
O buraco do espelho está fechado.
Agora eu tenho que ficar agora,
Fui pelo abandono abandonado,
aqui dentro, do lado de fora.
Arnaldo Antunes
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