sexta-feira, 30 de setembro de 2011

A última carta


Poema de Pedro Bandeira
extraído do livro: A Marca de uma Lágrima (1986).

E o meu amado o que diria
se eu partisse?
O que diria se estes versos
não ouvisse?
O que teria em suas mãos
senão um corpo dessangrado,
Cheio de carne, de suspiros,
de delírio apaixonado?
Faltaria, porém, o recheio das idéias,
a loucura e a razão,
que transformam um encontro sem graça,
em tremenda paixão!
Mas não tema o meu querido
Que esse amor desapareça,
Pois ele é amado ao mesmo tempo
por um corpo e uma cabeça.
O corpo ele pode beijar, cheirar,
fazer do corpo mulher.
Mas a cabeça o possui, manipula,
E faz dele o que quer!
Haja o que houver, do meu amor
esse garoto foi o rei.
Digam a ele que com corpo e cabeça
eu sempre o amarei.
A marca dessa lágrima testemunha,
que eu o amei perdidamente.
Em suas mãos depositei a minha vida
e me entreguei completamente.
Assinei com minhas lágrimas
cada verso que lhe dei,
como se fossem confetes
de um carnaval que não brinquei.
Mas a cabeça apaixonada delirou
foi farsante, vigarista, mascarada,
foi amante, entregando-lhe outra amada,
foi covarde que amando nunca amou!

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

21 de setembro - Dia da Árvore


A voz das árvores

Acordo à noite assustado.
Ouço lá fora um lamento…
Quem geme tão tarde? O vento?
Não. É um canto prolongado,
- Híno imenso a envolver toda a montanha;
São em música estranha
Jamais ouvida,
As árvores ao luar que nasce e as beija,
Em surdina cantando,
Como um bando
De vozes numa igreja:
Margarida! Margarida!

Manuel Bandeira

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

O índio e o neto


Uma noite, um velho índio falou ao seu neto sobre o combate que acontece dentro das pessoas.
− Há uma batalha entre dois lobos que vivem dentro de todos nós.
Um é mau - é a raiva, inveja, ciúme, tristeza, desgosto, cobiça, arrogância, pena de si mesmo, culpa, ressentimento, inferioridade, orgulho falso, superioridade e ego.
O outro é bom - é alegria, fraternidade, paz, esperança, serenidade, humildade, bondade, benevolência, empatia, generosidade, verdade, compaixão e fé.

O neto pensou nessa luta e perguntou ao avô:
− Qual lobo vence?

O velho índio respondeu:
− Aquele que você alimenta.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Reflexões sobre minha chegada aos 32 :)

Quando eu fiz 30 anos, eu estava muito triste. Eu tinha acabado de perder meu ídolo - Michael Jackson.

No meu aniversário de 31 anos, eu estava tão doente que cheguei a faltar na minha própria festa. Estava totalmente sem bateria... Saco cheio, depressão, cansaço (muito cansaço). As dores fortes, a perda da visão, eram os primeiros sintomas da esclerose múltipla se manifestando.

Os anos de 2009 e 2010 foram difíceis pra mim, e tudo levava a crer que 2011 estava indo pelo mesmo caminho. Eu me senti tão sozinha no meio da multidão. Cheguei à conclusão que a vida era mesmo uma merda e fui empurrando as coisas de qualquer maneira. Comecei a fazer o tratamento da E.M., e me conformei que esse seria o meu destino: tomar injeção pelo resto da vida, andar de bengala, trabalhar enquanto o corpo agüentasse, botar comida dentro de casa, pagar o aluguel e ir sobrevivendo. Dinheiro já não me importava mais. Qual era o sentido da vida? Me sentia dia após dia mais acabada, mais envelhecida. E se eu morresse, ninguém ia sentir minha falta.

Agora, ao completar 32 anos, descobri que a vida vale a pena sim. Estou grávida. E descobri, num estalo, que eu preciso viver!! Preciso lutar, trabalhar, respirar, ir além das minhas forças e viver muito!!

Quero ver meu filho(a) crescer e ser uma pessoa infinitamente melhor do que eu fui. Quero que o mundo receba minha criança de braços abertos, e que ela tenha espaço e condições para ser o que quiser, e ser imensamente feliz.

Sinto dentro de mim a força mais poderosa do mundo. Estou gerando uma vida.
Obrigada, meu Deus, pelo melhor presente de aniversário que eu poderia receber. :)

E obrigada, amigos, por estarem sempre a meu lado, mesmo quando eu não estava vendo. Amo todos vocês.

Luciene
08/09/2011

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Canção de Ninar





(Tião Carvalho)

Minha terra tem palmeiras
de jussara e jatobá
Minha neguinha Jussara
quem ficou a me esperar
com criança na barriga
uma canção de ninar
Minha terra é muito longe
É longe e ninguém vai lá.

Lá no dia do urubu
quem faz a festa é o sabiá
Minha preta na varanda
canta a canção de ninar.
Juro no cu da mucura
Vou jurar no jurará
A repetir juriti
minha canção de ninar.